O Hugo desenvolveu e está aplicando uma interessantíssima metodologia de identificação e gestão de talentos (http://www.mapadetalentos.com.br/) fundamentada na Psicologia Positiva do Dr. Martin Seligman, que ele entusiasticamente me apresentou quando nos reencontramos.
Não precisei de mais do que cinco a dez minutos de conversa com ele para perceber que estava diante de algo surpreendentemente necessário para a evolução do meu trabalho na área do Atendimento a Clientes.
O bacana foi que o Hugo não só compartilhou seu conhecimento comigo, sem o menor receio, como também me estimulou a ler e a pesquisar sobre o tema. Essas atitudes são raras num mundo tão competitivo como o nosso, mas como disse antes, o Hugo pensa à frente.
Desde então, é o que tenho feito: estudado a Psicologia Positiva.
Minha primeira providência foi ler o livro Felicidade Autêntica, do Dr. Seligman, indicação do próprio Hugo. Qual não foi minha surpresa ao ver estampado na capa do livro o seguinte comentário: “Finalmente a psicologia leva a sério a alegria, o prazer e a felicidade”. Sabem de quem é o comentário? Ninguém menos do que Daniel Goleman, o autor de Inteligência Emocional.
Como já explorado no artigo “O Atendimento Emocional” desse blog, a Inteligência Emocional é a base conceitual inicial da minha metodologia de atendimento a clientes. Portanto, se já estava animado com as minhas descobertas com relação à Inteligência Emocional, essa animação aumentou com tudo o que passei a ler sobre as emoções positivas. E é um pouco sobre esse tema que quero compartilhar com você nesse artigo.
O meu primeiro aprendizado relevante com a Psicologia Positiva foi saber que não há relação direta entre o tratamento das emoções negativas e o avanço das emoções positivas, ou seja, reduzirmos os efeitos da tristeza, da melancolia, do medo e da raiva, por exemplo, não vão contribuir para o aumento da alegria e da felicidade. O tratamento das emoções negativas irá nos levar, no máximo, a um estado de neutralidade, de equilíbrio, mas se o que quisermos é mesmo aumentar nossos momentos de estado de espírito positivo, os esforços que temos que engendrar são outros.
Já o inverso é possível, ou seja, investir no desenvolvimento da alegria, da gratidão, do otimismo, e de outras emoções positivas, traz melhorias consideráveis em relação à redução dos momentos de estado de espírito negativo. Você já ouviu falar dos Doutores da Alegria? Pois bem, eles são um bom exemplo disso, e ainda com desdobramentos positivos no campo da saúde física, aspecto que vou abordar logo mais abaixo.
Foi igualmente importante saber também dos benefícios dos estados de espírito positivos, como por exemplo, que fortalecem nossos recursos intelectuais, físicos e sociais, de forma a fazer com que geremos uma espécie de reserva psicológica, que utilizamos em momentos de necessidade como situações adversas e ameaçadoras. Além disso, sob efeito das emoções positivas nossa disposição mental é expansiva e nos tornamos mais tolerantes e criativos.
Isso tudo é bem mais amplo do que a simples sensação de bem-estar, o atributo mais popularmente conhecido das emoções positivas, concorda?
Quando estamos sob um estado de espírito positivo, pensamos de forma totalmente diferente de quando estamos sob um estado de espírito negativo, o que acaba também por se constituir em prova de que emoção e razão estão intimamente conectadas, como já explorado em outros artigos desse blog.
As pessoas felizes têm melhores hábitos de saúde, são estatisticamente mais produtivas (só não se sabe definir, nesse caso, se as emoções positivas são causa ou efeito), resistem melhor à dor e às emoções negativas, fazem mais amigos, enfim, se relacionam melhor com o mundo e com a sua própria vida.
Diferente da Psicologia Clínica, que foca a cura das doenças, das disfunções e dos efeitos danosos das emoções negativas, a Psicologia Positiva se propõe a focar o aumento das emoções positivas.
Sim, é possível aumentá-las!
Segundo o Dr. Seligman, nós podemos aumentar o nosso bem-estar e a nossa felicidade. Ele inclusive propõe uma fórmula para ilustrar isso:
H = S + C + V
Onde H (happiness) é a felicidade, S (set range) são os nossos limites estabelecidos – uma espécie de escala individual de limite mínimo e máximo de felicidade constituída basicamente por herança genética, C (circunstances) são as circunstâncias da vida – elementos como dinheiro, casamento, idade, saúde, educação, raça, gênero e religião, que têm apenas uma relativa e pequena influência positiva sobre a felicidade e V (voluntary) compreende os fatores que obedecem nossa vontade e o nosso controle.
Estes últimos são os mais relevantes para a Psicologia Positiva, e igualmente para o meu trabalho na área de Atendimento a Clientes.
Qual a proposta da Psicologia Positiva então para estes tais Fatores Voluntários?
A abordagem das emoções positivas deve compreender as três perspectivas distintas de tempo, ou seja, o passado, o futuro e o presente. Esses três sentidos das emoções são diferentes e não estão necessariamente conectados, portanto, merecem cada qual uma iniciativa específica.
Com relação ao passado, o importante é desenvolver um sentimento de satisfação com a vida, e neste sentido uma emoção em específico merece destaque: a gratidão. É preciso exercitar a gratidão.
A pouca apreciação que dedicamos aos acontecimentos positivos do passado, quando comparados com a ênfase que damos aos negativos é o que diminui o nosso contentamento e a nossa satisfação com a vida. O exercício da gratidão ajuda-nos, portanto, a ampliar as boas lembranças do passado e, com isso, as nossas chances de elevar a nossa satisfação com a vida.
Outro aspecto importante com relação à ampliação da felicidade ligado ao tempo passado compreende o melhor aprendizado do exercício do perdão, uma prática difícil que exige acima de tudo empatia, um enorme grau de altruísmo e muita disciplina. Difícil ou não, fato é que o perdão nos liberta das tristezas que habitam nossas lembranças, um movimento importante para obter serenidade e consequentemente satisfação.
Com relação ao futuro, a Psicologia Positiva enfatiza a importância do otimismo e da esperança. Ambos foram objeto de uma enorme quantidade de pesquisas e estudos empíricos. Fruto desses, destaca-se a descoberta de que, e como é possível desenvolvê-los.
O otimismo tem duas dimensões, a saber: a permanência e a penetrabilidade.
A permanência diz respeito à dimensão de tempo que atribuímos às causas e a duração dos acontecimentos sejam eles bons ou ruins. Assim, uma pessoa otimista é aquela que, por exemplo, considera permanentes as causas dos acontecimentos positivos e temporárias, as dos acontecimentos negativos.
Já a penetrabilidade diz respeito à dimensão de espaço. Com relação a essa, o otimista é aquele que percebe as causas e o impacto dos eventos negativos como fatores específicos, e como universais, os que se referem aos eventos positivos.
A esperança, por sua vez, é algo que deriva do aprendizado do otimismo. É uma condição que resulta da junção das suas duas dimensões. Ter esperança significa encontrar causas permanentes e universais para os eventos positivos e, ao mesmo tempo, causas temporárias e específicas para os eventos negativos. É possível aumentar a esperança; para isso, é preciso trabalhar no sentido de afastar as idéias pessimistas. Com esse intuito, é importante aprender a argumentar consigo próprio, pois é no nosso universo interno que essa batalha se trava. Temos que aprender a gerar evidências e alternativas que contraponham as idéias pessimistas, que comumente tomam conta de nossa mente. Além disso, precisamos também restringir suas implicações, desfazer crenças negativas, enfim, capacitar-nos a uma resposta mais assertiva e positiva com relação ao futuro.
Por último, e não menos importante, o foco do desenvolvimento das emoções positivas no presente.
Com relação a isso, o autor da Psicologia Positiva propõe estratégias concentradas em duas emoções: os Prazeres e a Gratificação.
Quanto aos primeiros, o objetivo é a sua ampliação, visto que esses têm como característica marcante a sua curta duração. Na verdade, os prazeres são protagonistas de certa confusão de percepção e entendimento em nossa sociedade atual. Para muitos, os prazeres são entendidos como “o caminho para a felicidade” e, sendo assim, esses acabam se envolvendo num processo interminável, insustentável e muitas vezes frustrante de busca de situações de prazer com o objetivo de serem felizes. Fato é que os prazeres não são capazes de ir além de gerar uma felicidade apenas momentânea, e é nessa lacuna que a gratificação entra.
A gratificação dura mais que o prazer, envolve raciocínio e interpretação, não cria hábito facilmente e está apoiada em nossas forças e virtudes.
Não obstante essa confusão, a estratégia de aumento das situações de prazer é válida, portanto, não deve ser descartada, mas sim entendida como uma das necessárias iniciativas. Aumentar os momentos de prazer envolve, a priori, o combate à sua natural habituação, através da voluntária busca do melhor espaçamento de tempo entre os diferentes eventos que o originam. Além disso, aumentar os momentos de prazer envolve também o aumento da sua apreciação, através de um maior compartilhamento da sua experiência, do esforço na constituição de memórias mais ricas a seu respeito, da auto-permissão do sentimento do orgulho que lhe é inerente, do aguçamento das percepções a seu respeito, e ainda da maior entrega e total absorção às suas sensações. Todas essas iniciativas tendem a alongar a duração e o efeito dos momentos de prazer.
E com relação à gratificação?
Você se lembra de ter vivenciado algum momento em que se viu de tal maneira absorvido ao realizar algo que nem viu o tempo passar?
Pois bem, esse fenômeno é o que um autor de nome muito esquisito, o Dr. Mihaly Csikszentmihalyi (pronuncia-se chicsenmiraií) chama de flow, que traduzindo literalmente para o português significa fluxo.
São os momentos de flow que nos proporcionam a gratificação, e é nesse ponto que a Psicologia Positiva, em minha opinião, mais se aproxima do contexto do trabalho, uma vez que está diretamente ligado às atividades nas quais nos empenhamos em nosso dia-a-dia, dentre estas o próprio trabalho.
O flow depende basicamente dos seguintes componentes para acontecer:
• tarefas desafiadoras que exijam habilidade;
• alto grau de concentração;
• objetivos claros;
• feedback imediato;
• envolvimento intenso e natural;
• senso de controle;
• desaparecimento da autoconsciência;
• sensação de que o tempo parou.
Note que na lista de componentes essenciais do flow não há menção a qualquer emoção positiva. Na verdade, o que caracteriza o flow é de fato a ausência total de emoções e da própria consciência, elementos que existem para corrigir trajetórias. Como quando estamos em flow aproximamo-nos da perfeição, essas são então desnecessárias.
Você lembra de que uma das características dos estados de espírito positivos é de gerar uma espécie de reserva psicológica, que utilizamos em momentos difíceis e de adversidade?
Muito bem, o que nos possibilita isso é exatamente o flow e o seu consequente sentimento de gratificação.
Se o prazer se traduz em uma espécie de saciedade biológica, a gratificação define o ponto de crescimento psicológico.
É exatamente nesse ponto que reside a grande possibilidade de contribuição da Psicologia Positiva para o contexto profissional: na descoberta das causas e no estímulo do flow no desempenho diário do trabalho.
Nesse sentido, dois desafios se estabelecem. O primeiro deles é vencer a “natureza preguiçosa” do homem, principalmente na sociedade atual, que em sua grande maioria prefere os “atalhos”, ou como costumo chamá-los “o curto caminho longo”. O flow envolve engajamento, o que muitas vezes significa dizer sacrifício – você conhece o estudo do caso da escolha dos marshmalows com um grupo de jovens numa escola norte-americana? Vale a pena pesquisá-lo. Em última instância trata-se de lidar com a motivação.
O segundo desafio diz respeito à identificação das forças e virtudes pessoais e da sua harmonização com os desafios encontrados no exercício diário do trabalho.
Você sabe quais são as suas principais forças pessoais?
O seu trabalho lhe permite exercê-las de forma plena?
É neste ponto em específico que o Hugo atua com a sua metodologia – lembra do meu amigo que me apresentou a Psicologia Positiva?
Aliás, neste ponto o trabalho do Hugo, ou melhor, da Mapa de Talentos é bem mais rico e adequado do que a abordagem do próprio Dr. Seligman. A razão para isso é muito simples: enquanto o Dr. Seligman desenvolveu o seu conceito considerando um contexto genérico e universal, o Hugo trabalhou com foco específico no contexto profissional, do trabalho, e principalmente numa realidade bem nossa, bem brasileira, bem atual.
Na Mapa de Talentos as virtudes e forças ganharam uma nova leitura e passaram a ser chamadas de talentos, o que para eles compreende os pensamentos, sentimentos e comportamentos frequentes que podem ser aplicados de forma produtiva.
Segundo o modelo do Dr. Seligman, são 24 as forças individuais consideradas ubíquas e capazes de nos levar a viver de forma gratificante e plena. Dentre essas posso destacar a curiosidade e o interesse pelo mundo, o gosto pela aprendizagem, a bravura, a perseverança, a integridade, a bondade, o autocontrole, a prudência, a humildade, a gratidão, a espiritualidade e o entusiasmo.
Já no modelo da Mapa de Talentos, são 36 os talentos possíveis de identificação, e a sua redação é totalmente distinta, dando destaque a um perfil específico. Veja alguns exemplos: Realizador, Aprendiz, Otimizador, Estratégico, Restaurador, Analítico, Idealizador, Ativador e Desenvolvedor.
Para cada um desses há uma definição específica, como por exemplo, o Realizador que se caracteriza pela autocobrança e pelo alcance de metas como uma forma de entender o seu progresso no dia-a-dia. Ninguém precisa cobrá-lo. O Aprendiz é outro exemplo: para esse a necessidade de renovação de conhecimentos é fundamental e as atividades que realiza ou venha a realizar devem permitir e/ou estimular essa opção.
Eu gostaria muito de tratar aqui tanto do modelo das forças e virtudes, como dos talentos, mas o tema é bastante extenso e tornaria esse artigo ainda mais longo. Portanto, a tarefa ficará para um próximo e talvez exclusivo artigo.
Por fim, encerro falando da importância que esse tema tem tido no desenvolvimento da continuidade do meu trabalho com relação ao Atendimento Emocional. Na verdade, acho que depois de ler esse artigo, você não terá dúvidas do quanto isso pode contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento das estruturas de atendimento e dos profissionais que atuam nessa área.
Com a agregação dos conhecimentos da Psicologia Positiva, o Atendimento Emocional ganha agora uma nova dimensão, que o torna ainda mais completo e atual.
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