...Me pego às vezes refletindo sobre
isso.
Acho que não, pois como todo
adolescente me imaginei atuando também em diversas outras áreas e profissões,
afinal, aquela era a fase de sonhar, de descobrir minha vocação, de fazer minha
escolha profissional.
Acredito que não nascemos médicos,
advogados, engenheiros, ou qualquer profissão que um dia tenhamos escolhido. A
gente se descobre nela ao longo da vida, num processo que, creio eu, começa
sempre com aquilo que está mais disponível, mais próximo de nós.
Trabalhei em restaurante e fui jogador
de futebol na minha adolescência, pois meu pai era dono do restaurante e tinha
sido dirigente de um clube de futebol por quase oito anos. Foi natural que eu
experimentasse aquilo. Apesar de não ter seguido aquelas atividades como
profissão, foram ótimas experiências, porque além de acumular conhecimento,
tive a oportunidade de me pôr à prova e descobrir o que era capaz de realizar.
Aprendi coisas diferentes, em contextos únicos, que até hoje me são muito úteis
e marcam meu perfil de atuação nas áreas em que trabalho ou já trabalhei.
Lição 1: Todo aprendizado vale.
Em verdade, tudo tem a ver com o
exercício dos nossos talentos. Aquilo que naturalmente nos agrada fazer,
aprendemos com mais facilidade e consequentemente fazemos melhor. Nossos pontos
fortes nascem conosco, porém, não no formato de perfil profissional acabado,
pois esses são estereótipos, mas como um conjunto de tendências para fazer com
satisfação e bem feito determinado tipo de atividade, ou expressar determinado
tipo de comportamento.
Sempre gostei da “lida de casa”.
Nenhuma vergonha disso. Pelo contrário, gostava de arrumar a bagunça que eu e
meus irmãos fazíamos, colocar tudo em ordem, decorar meu quarto com quadros e
pôsteres nas paredes, cuidar do jardim e outras tantas atividades domésticas.
Parece coisa banal, não?
Talvez, mas no meu caso, isso tudo
compôs uma experiência, um conhecimento e um rol de preferências que depois
acabaram por definir minha escolha profissional.
Quando aos dezesseis anos de idade
minha mãe me surpreendeu ao apresentar-me a “Faculdade de Hotelaria”, em função
de um trabalho que estava realizando, minha reação foi natural e imediata: é
isso o que quero para mim. Quero ser hoteleiro!
Na época, poucos sabiam que a
hotelaria era objeto de estudo e formação acadêmica. Aliás, hotéis eram
realidades distantes da maior parte das pessoas. O que me atraiu para a
hotelaria foi, sem dúvida, minha experiência na lida da casa e, naquela época
com destaque, tudo o que se relacionava à cozinha e à “mesa”. Não à toa, minha
trajetória inicial na profissão se deu exatamente na área de A & B, para
quem não sabe, Alimentos e Bebidas.
Lição 2: Identifique seus talentos,
conecte-os com aquilo que está próximo e disponível e exercite-os, de forma a
transformá-los em pontos fortes.
Atuei por mais de dez anos em funções
de gestão na hotelaria e acho que, modéstia à parte, com relativo sucesso.
Mas não foram dez anos ininterruptos,
pois ainda em minha primeira gerência em A & B, envolvido pessoalmente com a
montagem da sala para um treinamento da minha equipe, minha dedicação chamou a
atenção do consultor responsável pelo programa. Ao final do treinamento, o
consultor, então meu novo colega de empresa (a Accor tinha recém adquirido a
Quatro Rodas Hotéis do Nordeste, onde eu trabalhava) perguntou se eu não teria
interesse em participar de um projeto inovador que estava por se iniciar na
Accor, na área de Treinamento e Desenvolvimento. Foi uma grata surpresa porque
eu já estava mesmo com as “antenas ligadas” à procura de um novo desafio.
E o curioso foi que de certa forma
foram minhas habilidades na “lida da casa” que mais uma vez me renderam bons
frutos.
Naquele convite teve início uma das etapas
mais profícuas da minha carreira em termos de desenvolvimento profissional.
Pouco mais de um mês depois, passei a fazer parte da equipe gerencial da
primeira universidade corporativa do Brasil, um dos cases dessa área, a então
Academia Universidade de Serviços, hoje Académie Accor.
Obra do acaso? Não. Acredito que foi
exatamente o aspecto da proximidade e a disponibilidade que definiram o
redirecionamento da minha trajetória profissional. Não obstante, é bom lembrar
que eu estava mesmo à procura de um novo desafio.
Lição 3: “Ligar as antenas” não só
capta, mas também atrai aquilo que se procura.
Comecei minha carreira em Consultoria
ainda com “um pé” na gestão operacional, pois acumulava a responsabilidade pela
gerência dos serviços e da estrutura da Académie Accor em Campinas. Cuidei
primeiramente da formação de profissionais da própria hotelaria e mais tarde
ampliei meu foco de atuação, passando a atender as demandas de formação e
desenvolvimento da Ticket (Edenred), uma empresa, naquela época, ainda do Grupo
Accor, referência na sua área de atuação.
Algum tempo depois, diante novamente
da possibilidade de fazer parte de mais um grande e inovador projeto na Accor,
voltei à gestão hoteleira, no Resort Costa do Sauípe, onde fiquei por dois
anos. Mais uma vez, a oportunidade surgiu dali, de bem próximo do meu dia a
dia. Depois de Sauípe, onde, confesso, o aprendizado se deu de modo sofrido,
gerenciei ainda mais dois hotéis pela Accor.
Em relação a essa segunda passagem
pela hotelaria, vale destacar o diferencial que minha experiência anterior em
consultoria aportou ao meu desempenho como gestor de uma operação hoteleira. A
experiência mais diversa em áreas afins ou complementares enriquece não só a
capacidade de análise, mas principalmente a capacidade de criar e implantar
soluções inovadoras, mais completas e de maior valor agregado.
Lição 4: Todo aprendizado vale, ainda
mais se for variado e utilizado em contextos diferentes, de forma inteligente.
Quando deixei a Accor em 2009, depois
de 20 anos naquela maravilhosa organização onde muito aprendi, me pareceu ser o
momento de retomar minha carreira de consultor, dessa vez numa empreitada solo,
quando então criei a Pollux e desenvolvi minha abordagem inovadora sobre o tema
Atendimento a Clientes. Foi a fase de aprender a ser empreendedor de fato.
Entretanto, em meio a uma viagem a
trabalho para captação de negócios em São Paulo (na época morava em Salvador),
reencontrei uma antiga colega da Accor. Desse contato, que ativou novamente a
dobradinha proximidade/disponibilidade, veio indiretamente uma nova proposta
profissional, desta vez para gerenciar um clube social. Eu não buscava nada
além de negócios para minha empresa naquele momento, mas não pude deixar de
reconhecer o aspecto tremendamente desafiador daquela oportunidade. Tratava-se
de um projeto que envolvia esforços de profissionalização da gestão de um clube
de quase oitenta anos, dono de uma cultura muito tradicional. Foi uma
experiência difícil, pois tive que me adaptar ao contexto político que marca o
ambiente de gestão de todo clube, e do qual tinha pouco conhecimento. Foi uma
experiência cheia de descobertas e quebra de paradigma que me fez crescer muito
em termos pessoais, pois me exigiu muita flexibilidade e paciência.
Lição 5: A experiência em contextos novos
e desconhecidos só gera evolução e aprendizado, se tivermos, além de muita
curiosidade, verdadeira disposição para aceitar o ônus da mudança.
Minha experiência no clube foi
concluída no último mês de agosto e entendo que chegou o momento de realizar um
desejo antigo. Algo que tem a ver com a busca de um trabalho mais
significativo. Quero ser gestor no segmento hospitalar, conforme revelei no
início desse texto.
Posso estar sendo ingênuo, mas
acredito que atuar no segmento hospitalar envolva fundamentalmente uma noção de
causa embutida em si, o que dá ao trabalho uma dimensão diferente, o que
procuro nesse momento. Mais do que servir aos outros, quero ajudá-los em suas
necessidades e perceber de forma mais intensa o sentido de realização e
melhoria naquilo que faço.
Espero que as “antenas ligadas” me
ajudem novamente a captar e atrair essa nova a tão desejada oportunidade.
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