Sinceramente, não aguento mais ler as
mesmas coisas, as mesmas frases de efeito, as mesmas citações apologéticas, as
dez dicas para isso, as cinco mais aquilo, as quinze sugestões que me
transformarão no melhor nisso ou naquilo.
Chega!
Você sabe o que é um clichê?
Se não sabe, vou lhe explicar o que
é.
Fonte: http://oficinahobby.blogspot.com.br/ |
Um clichê é uma placa de metal onde
são gravados, através de um processo fotomecânico, os textos e imagens que
serão impressos em papel.
Quem me ensinou isso foi minha mãe (Zulma Victória da Silva),
que é revisora* há quase sessenta anos. Aliás, é ela quem revisa
meus textos aqui no blog. Ou pelo menos os que enviei para ela revisar.
Quando era criança, lembro-me de
vê-la debruçada sobre um calhamaço de folhas de papel jornal, espalhados pela
mesa da sala de jantar. Eram as chamadas primeiras provas dos livros. Os textos
originalmente escritos pelos autores, que ela revisava por uma ou duas vezes,
antes de serem publicados. Lembro-me que aquelas folhas chegavam em casa
bonitinhas, limpinhas, só com os textos em preto sobre o tom pálido do papel.
Com o tempo, a depender da qualidade do autor, o trabalho de minha mãe
deixava-as mais ou menos coloridas, com as anotações em azul, vermelho ou
grafite, correções e reconstruções dos textos que seguiam um código de sinais e
procedimentos específicos da sua atividade. Em alguns dos trabalhos,
lembro-me, ela quase que reescrevia
totalmente os textos.
Hoje, a maior parte desse trabalho é
feita automaticamente pelos editores de texto dos computadores, onde são
originalmente digitados. Ou melhor, acha-se que isso é feito automaticamente,
pois na verdade a transformação que minha mãe fazia, e continua fazendo nos
textos que revisa, jamais vi ser realizada por qualquer software.
Nunca esqueço de vê-la comentar:
“Olha só, ele (o autor) construiu a ideia de forma invertida. Está confuso!”.
Ela reorganizava a estrutura do texto e... Voilá! tudo ficava mais fácil de
entender.
Bem, mas minha proposta aqui não é
falar do trabalho de minha mãe, ou sobre como redigir melhor e de forma mais
clara e correta.
Será mesmo!?...
Acho que mais ou menos.
Se não quero tratar da forma, quero
sim tratar do conteúdo.
Quero demonstrar o meu repúdio ao uso
abusivo dos clichês, mas aqui no seu sentido figurado: dos clichês enquanto
lugar-comum, aquilo que é dito repetidamente como argumento de convencimento ou
comprovação de uma ideia, um pensamento ou uma tese.
Assim como o clichê tipográfico, o
clichê, no sentido figurado, é algo que tem por finalidade reproduzir várias
vezes o mesmo texto e, por consequência, o mesmo pensamento, a mesma ideia, a
mesma opinião, a mesma tese.
Sou um internauta contumaz. Passo boa
parte do meu tempo na web, pesquisando, lendo, analisando e escrevendo ou
fazendo o mesmo no mundo material, através de livros e papers (trabalhos acadêmicos e científicos). Tudo isso gera
conteúdo que, somado à minha experiência, se transforma nos treinamentos e
ações formativas que aplico. Enfim, a internet é meu ambiente e uma das fontes
importantes do meu trabalho.
Meu tema de interesse? O ser humano
e, em especial, o seu comportamento no contexto profissional. Dentro desse tema priorizo os conteúdos que
tratam das emoções e sua dinâmica, e da racionalidade inerente ao comportamento
humano que ocorre dentro do contexto profissional, com destaque para as
atividades de Atendimento e Venda.
Pois é precisamente aí que mais tenho
perdido minha paciência!
Busco algo novo, revelador, mas só
encontro, cada vez mais, clichês. As mesmas citações, as mesmas abordagens, a
mesma superficialidade, a mesma falta de consciência e dedicação de quem se
propõe a escrever sobre esses temas.
Às vezes me ponho a refletir: “Por
que tanta gente escreve as mesmas coisas sobre esses temas? ...Será que é por
que querem demonstrar que sabem o que todos já sabem e assim poderem se sentir
parte da tribo? ...Será que é para apenas consolidarem seu entendimento?
...Será que é por que se deixaram contaminar pelo meme da evangelização? ...Ou
será que é apenas falta de consciência?”
Seja lá qual for a resposta, uma
coisa é certa: é profundamente frustrante, e por consequência irritante, ter
que ler, ou pelo menos passar os olhos em tanto texto e comentário ruim, sem
originalidade, sem novidade e sem conteúdo, se posso assim dizer. E que fique
claro que não estou aqui criticando a forma, a qualidade da redação, mas apenas
o conteúdo. Até por que, não me vejo com competência para criticar estilos e
qualidade de redação.
Ora, se não há nada de novo a dizer,
que nada se diga . É melhor utilizar esse tempo para ler e saber o que já foi e
já está sendo dito (de novo).
A internet simplificou, barateou e
democratizou o acesso ao escrever e publicar, mas ao mesmo tempo banalizou essa
atividade.
Era natural que isso acontecesse,
não?
Entendo que sim. Contudo, não acho
que devamos apenas aceitar silenciosamente todo esse lixo que é colocado
diariamente na web. Acho que temos que exercer o nosso papel de críticos ativos
e forçar aqueles que escrevem a fazê-lo melhor. É preciso comentar sem pudor,
analisar sem medo, criticar positiva ou negativamente tudo aquilo o que lemos
na web. Vamos combater esse vício das frases repetidas, dos chavões e da
desanimadora previsibilidade das abordagens. Vamos exigir que nosso tempo de
pesquisa e leitura seja respeitado e proveitosamente utilizado, seja com
provocações críticas inteligentes, ou com revelações e descobertas que nos levem
verdadeiramente a repensar e a criticar nossos conhecimentos e opiniões.
Já me bastam os filmes
cinematográficos norte-americanos.
Chega de Clichês!
*Revisor de textos é o profissional encarregado de revisar material escrito com o intuito de conferir-lhe correção, clareza, concisão e harmonia, agregando valor ao texto, bem como o tornando inteligível ao destinatário ― o leitor. Fonte: Wikipédia.
Caso tenha interesse em conhecer a atuação da Pollux Treinamento e Qualificação Profissional, mande seu e-mail para: andrevictoriadasilva@hotmail.com
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Gostei do texto André. Também sinto a mesma coisa que tu. Eu também uso a internet bastante em meu trabalho para pesquisa e parece que as idéias se repetem, somente com palavras diferentes. O pior na minha área - o Direito - é o maldito argumento de autoridade, ou seja, uma autor com nome renomado, ou que tem um cargo de destaque, diz alguma coisa e todos repetem como papagaios, sem qualquer reflexão. Já vi tanta besteira publicada, especialmente no meu local de trabalho, onde temos a nossa "Revista de Caras" (como jocosamente chamamos a nossa intranet) que vou te contar. O pior é aguentar os tais comentários laudatórios. E como aqui a repressão anda violenta, se a gente critica, com um tom mais áspero acaba respondendo sindicância. É a ditadura da imbecilidade. Quem pode mais escreve o que quer e o resto tem que aguentar. Já desisti de ler os artigos dos "doutos" promotores na intranet. Tem muito pouca coisa que se aproveite, pois aqui basta que se passe no concurso do Ministério Público, para o cidadão virar um jênio (com "j" mesmo - a tia Zulma que me desculpe, mas apenas é uma brincadeira com a Língua Portuguesa). Tu não ias acreditar as besteiras que se escreve na intranet. De qualquer forma, belíssimo texto. Abração a todos.
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