Há exatamente vinte e cinco anos, mais ou menos neste mesmo horário em que comecei a escrever este texto, já me encontrava à porta da simpática e graciosa capela da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, na Tristeza (que de triste não tem nada), em Porto Alegre.
Acordei cedo, levantei-me e olhei de pronto para a calça, o sapato e a gravata devidamente preparados na véspera, tudo novinho comprado nas lojas Renner da Rua da Praia. Quanto ao restante do traje, nada de novo: a roupa de baixo, dispensa comentários, a camisa branca já tinha sido muitas vezes usada em escalas de serviço e o blazer cinza grafite me tinha sido emprestado por um colega de trabalho. As alianças!? Sim as alianças. Presente da querida tia Norma. Estavam também ali. 2,4 gramas de ouro, provenientes de jóias antigas, fundidas e transformadas no símbolo de união e do compromisso que mais tarde seria selado, na decisão mais importante da minha vida. Eu tinha na época vinte e um anos, e a Rose, vinte e dois.
Tomei um longo e bom banho, afinal, o dia seria longo e a noite prometia!
Dei uma aparada num projeto de bigode estilo Errol Flynn, que eu pretensiosamente resolvi cultivar para a ocasião, vesti-me, tratei logo de colocar o estojinho com as alianças no bolso do blazer e fui tomar o café da manhã.
Eu já morava em Pernambuco, onde, recém formado, dava os primeiros passos da minha carreira hoteleira. Era trainee de Alimentos e Bebidas no então Hotel Quatro Rodas de Olinda. Tinha ido à Porto Alegre apenas para o casamento e mais três dias de lua de mel, que passamos em Canela.
Meu pedido de casamento fora feito por carta. Tenho-o comigo atualmente. Há alguns anos atrás, quando meu querido sogro ainda era vivo, ele mo deu de presente. Fiquei todo envergonhado ao relê-lo. Diante do tom um tanto arrogante da carta (isso sendo bastante gentil comigo mesmo) perguntei ao Milton: “Mas como é que o senhor me deixou casar com a sua filha depois de um pedido desses?”, o que ele sabiamente respondeu: “É que com a idade a gente aprende a ler a entrelinhas.” Grande Milton! Muita saudade.
Mas voltando ao dia 08/08/87....
Curiosa a data, não? Chegamos a pensar na hipótese de esperar mais um ano para casar, pois assim arredondávamos tudo para no número oito, o número considerado de sorte pelos chineses.
Bobagem! Quando é prá ser a gente não pode esperar.
Era um Sábado e fazia um friozinho gostoso. O dia amanheceu com aquela neblina tradicional e foi assim que curti cada passo do trajeto entre a Av. Wenceslau Escobar, número 3734, e a Rua Padre João Batista Reus (o grande Padre inventor), número 1133. O momento ainda está vívido em minha memória: Subindo a lomba da Pedra Redonda, brincando de fazer “fumacinha” com o ar quente que saia dos pulmões.
Cheguei cedo à cerimônia e fiz questão de receber na porta da capela, um a um, todos os convidados. Não eram muitos, é bem verdade, mas eram todos muito especiais. E como eram especiais! Hoje mais do que nunca reconheço isso.
De lá prá cá, a terra já deu 9.132 voltas ao redor do seu eixo e já percorreu mais de 23 bilhões de quilômetros ao redor do sol, já moramos em três estados diferentes, já nos mudamos oito vezes de casa, já trouxemos ao mundo dois filhos maravilhosos. Nosso casamento já venceu inclusive a construção de uma casa!
Claro que já tivemos nossas crises: A dos dois anos, dos cinco, a dos sete, a dos dez, a dos quinze, enfim, foram muitas. O bom é que cada uma delas só nos fez confirmar o que dizem os orientais: Crise é oportunidade. E nós crescemos muito em cada uma delas.
Meu Deus, como sou grato a tudo que o casamento tem me proporcionado. Nesses anos todos aprendi muita coisa sobre o significado da compreensão, do respeito, da dedicação, da cumplicidade, do companheirismo, da ajuda, da felicidade, da coragem, da saudade, da persistência, do perdão, da gratidão, da amizade, do amor, do se permitir ser amado e, principalmente, do significado da própria vida.
Podia ter deixado esse momento e essa emoção prá ser vivida só entre eu e minha família, mas resolvi compartilhá-la aqui porque achei que precisava dar o meu testemunho do casamento.
Por que? Porque acho que o casamento é de fato o esteio da família, e a família, por sua vez, o da sociedade.
Os estudiosos da felicidade e do bem estar já descobriram o quanto o casamento é importante para a vida das pessoas. Claro que não me refiro aqui ao casamento de “papel passado”, mas ao mais importante, ao casamento de verdade. Aquele baseado em tudo o que citei como aprendizado mais acima.
O casamento aparece na fórmula da felicidade, como parte integrante das chamadas Circunstâncias da Vida, e é dentre os sete itens que compõem esse grupo (dinheiro, saúde, gênero, idade, raça, educação e religião), um dos poucos a apresentar relação direta com a felicidade. Só o que não se sabe é se as pessoas são felizes porque estão casadas, ou se estão casadas porque são felizes. Não importa! O que vale mesmo é saber que casamento e felicidade andam de mãos dadas.
Mas é preciso casar de verdade!
É preciso reconhecer que casamento é doação e não cobrança.
O casamento é grande chance que temos na vida de aprender a expandir o nosso ser, a partir do convívio íntimo com as diferenças.
"...Acho que o padre que nos casou já tinha me dado essa dica!" Rsrsrsrsrs.
E não foram poucas as vezes em que os ativistas contrários de plantão tentaram me dissuadir. Não foram poucas as vezes em que me deparei com situações em que tive vontade de “jogar tudo pro alto”. Ainda bem que não o fiz. Que grande erro teria cometido. Casar não “foi”, casar “é” sem dúvida a decisão mais acertada que fiz na minha vida. Digo “é” porque essa é uma decisão que a gente renova todo dia e a toda hora.
Claro que a maior razão de tudo isso não poderia ser outra: a outra metade dessa laranja, como dizia a falecida Vó Clorinda.
Tenho uma mulher extraordinária como esposa, como companheira, como amante, como amiga e principalmente, como pessoa.
Por último, agradeço em especial aos nossos filhos amados, nossos queridos irmãos e irmãs, meu pai e minha mãe, pelo grande exemplo de superação e de casal que são, à minha sogra, pelos momentos de paciência e compreensão, por todos aqueles que torcem e os outros, assim como a tia Norma, que rezam por nós.
Amo todos vocês!
Ops! Tá na hora de publicar, afinal, a cerimônia começou pontualmente às 10h00.
Maravilhoso o texto Andre! Concordo em tudo 100%! To quase chegando nos vinte e cinco também.
ResponderExcluirObrigado Orlando! Quero lhe dar os parabéns em suas Bodas de Prata também. Abração.
ExcluirMe emocionei lendo............aliás, parece que estava lhe ouvindo contar com os olhos brilhantes, entusiasmado.....está explicito em suas palavras o quanto realmente é feliz nesse contexto!!
ResponderExcluirObrigada por compartilhar comigo - uma recém casada - toda essa experiência/vivência de vida a dois.............realmente é como faz sentido para mim.............que venham também em minha vida longos 25 anos de vida........... SINCEROS PARABÉNS PELA PESSOA QUE ÉS, E QUE SE TORNOU COM O PASSAR DOS ANOS DE CASADO!!!!!
Obrigado amiga. Aproveito a oportunidade para te desejar um casamento duradouro e muito profícuo.
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